A prática da dança profissional traz repercussões muitas vezes negativas para a estrutura músculo-esquelética, pois uma das características desta profissão é a repetição excessiva dos movimentos na busca de refinamento das habilidades motoras e coordenação avançada. Em consequência deste treinamento, há modificação nas curvaturas da coluna, excitação e inibição muscular (quando um músculo deixa de cumprir a sua função e o outro tenta assumir, causando desequilíbrios musculares), sobrecarga nas articulações em função dos levantamentos, saltos, quedas e malabarismos, algumas vezes com estratégia motora inadequada. São inerentes à profissão, mas distantes da mecânica corporal natural.
O convívio dos bailarinos com a dor é uma constante. Alguns desenvolvem um limiar de tolerância muito alto, o que lhes permite conviver com a dor e não parar de trabalhar, alguns precisam recorrer aos relaxantes musculares e anti-inflamatórios. O bailarino quer ser forte, resistente, fluente e ter uma coordenação muito apurada, custe o que custar, como todo atleta. É inerente a esses profissionais o desejo da perfeição.
Os fatores acima mencionados podem gerar desalinhamentos graves e lesões decorrentes de muitas horas de ensaios, aulas e montagem de coreografias nos períodos das apresentações. Essas lesões tornaram-se mais evidentes com a valorização da profissão, o que levou estudiosos a voltarem sua atenção para esses profissionais, revelando que, por trás dos bastidores, existe um enorme sacrifício físico.
Em épocas de montagem de coreografias, quando o coreógrafo estabelece quem vai dançar, é muito comum observar-se um extremo estresse físico e psicológico pois, para o bailarino profissional, ter um excelente desempenho em cena é a sua principal finalidade e seu corpo é o seu instrumento de trabalho. Ele precisa vencer a gravidade, saltar alto, ter flexibilidade e estabilidade em todas as articulações. Para isso é comum ultrapassar a amplitude de movimento permitida pelas articulações, correndo o risco de se lesar, mas busca compensar pelo excelente controle motor. Ele necessita ser forte, leve, vigoroso e ter a habilidade refinada de se mover em diferentes velocidades e dinâmicas.
O método Pilates tem sido usado por muitas companhias de dança de todo o mundo no treinamento do bailarino profissional, com o objetivo da busca do equilíbrio muscular, da consciência do movimento, da harmonia e da saúde da mecânica corporal.
O método trabalha primariamente o fortalecimento dos músculos expiratórios, que estabilizam a coluna ("a força que vem do centro do corpo"), com o que concordam algumas pesquisas científicas dos anos 1990 e sua conclusões sobre a função muscular. Essas pesquisas sugerem que a ação antecipatória dos músculos estabilizadores em relação às extremidades em indivíduos saudáveis é um mecanismo natural do corpo. Foi relatado que o músculo transverso abdominal é acionado 'milisegundos' antes dos movimentos das pernas e dos braços – assim, por exemplo, é o transverso que inicia o movimento quando o indivíduo saudável quer pegar alguma coisa em cima do armário. Este start (início) do movimento no centro do corpo está inserido na filosofia do método Pilates e parece ser um grande segredo para a prevenção e reabilitação das lesões.
Ao começar um exercício a partir do centro do corpo (unindo ciência e filosofia do método) privilegiando a organização óssea, o alinhamento correto e equilíbrio muscular que o bailarino necessita, há a diminuição de sobrecarga na coluna e organização do centro de gravidade, acarretando menos descarga nas articulações e tornando o bailarino mais preparado para as demandas da própria profissão, além de preencher lacunas deixadas por algumas técnicas de dança.
O emprego do método Pilates para bailarinos busca promover a ativação correta da musculatura desejada, restaurar o equilíbrio entre a hipomobilidade e hipermobilidade nas vértebras, diminuir as assimetrias, melhorar o padrão respiratório, o alongamento, a estratégia motora, com economia de energia e melhora do desempenho . A resposta a este treinamento são movimentos precisos, conscientes, harmoniosos, potentes e fluidos. A coordenação apurada, refinada e complexa que esses profissionais necessitam para exercer o seu ofício pode ser retreinada nesse método, através de exercícios com aparelhos de mecanoterapia que podem auxiliar e simular essas funções ou através do repertório de chão (Mat Pilates) adaptado para as necessidades individuais de cada profissional.
A utilização do método Pilates com profissionais da dança impõe alguns desafios pois, além de um trabalho básico no local onde o movimento está mais deficiente, é preciso cuidado também com as áreas que estão bem equilibradas, visto tratarem-se de "atletas" ou "movedores de elite". Esse cuidado em ministrar o exercício na dosagem correta pode ser um elemento não medicamentoso muito importante na prevenção de lesões e também na reabilitação.
Os profissionais devem procurar sempre médicos e profissionais de saúde para fazer os diagnósticos e tratamentos necessários, assim como professores de Pilates especializados em movimento refinado, capazes de implementar um trabalho de qualidade focado nas necessidades de cada profissional.
De qualquer forma, prevenir é melhor que remediar! O que o bailarino mais deseja é a melhora do desempenho e o prolongamento de sua carreira, evitando interrupções no período mais produtivo. Ele quer a perfeição, quer o céu, quer voar... mas, para isso, precisa ter uma visão bastante consciente dos problemas que podem ocorrer no futuro, se não fizerem um trabalho preventivo!
Fonte: physiopilates.com
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