Sabe aquela vizinha bonitona, de corpo esguio, que esbanja saúde? Você pode não acreditar, mas é bem possível que ela mantenha a forma sem freqüentar academia de ginástica, nem suar na esteira, nem erguer pesos numa sala de musculação. Preocupados com o corpo, mas avessos à malhação tradicional, cada vez mais cariocas estão descobrindo que beleza e saúde não precisam ser sinônimo de sofrimento e abnegação. São os adeptos de uma malhação mais zen. Gente que molda o corpo em aparelhos de pilates, posições de ioga, aulas que misturam tai chi chuan, dança e meditação. "As pessoas estão gostando porque são atividades que cuidam do corpo e também da cabeça, já que exigem concentração e aliviam o stress. Nunca vivemos sob tanta tensão quanto hoje em dia", resume Teresa Camarão, talvez o maior fenômeno dessa onda. Teresa descobriu o pilates em meados dos anos 90. Abriu seu primeiro estúdio em 1999. E hoje, menos de cinco anos depois, é dona de dez estúdios, espalhados na Zona Sul, Barra, Centro e Niterói. Tem 1 000 alunos, fabrica e vende aparelhos, forma professores e acaba de lançar uma fita de vídeo ensinando a usar os pitorescos apetrechos do pilates.
Teresa soube aproveitar a onda. De todos os modismos dos últimos anos, o pilates é, sem dúvida, a sensação. "Se eu quisesse ficar rica, só teria salas de pilates", afirma Marion Kelson, dona da Gestos, uma dessas academias alternativas que oferecem várias atividades misturando ginástica, terapia corporal e filosofia oriental. Marion é representante de uma das tribos mais comuns da malhação zen – a dos que não se adaptam às academias. Vivia entrando e saindo, sem muito entusiasmo.
"É coisa de maluco. O professor gritando, a música alta, todo mundo se olhando no espelho o tempo todo, numa obsessão narcisista incrível", diz. A diferença de ambiente é mesmo marcante. Na Gestos, como na maioria dos espaços que oferecem aulas de pilates, ioga e afins, a música é suave – em geral jazz, bossa nova ou algo do gênero –, a decoração é clean e o espaço, perfumado. Mas que ninguém pense em sombra e água fresca. Quem já experimentou uma sessão de pilates, por exemplo, sabe bem: o corpo fica dolorido, a perna bamba. É malhação, sim, mas em clima de calmaria.
Inventado na década de 1920 pelo alemão Joseph Pilates, um sujeito cheio de problemas de saúde e de excelentes idéias, o pilates vem conquistando milhares de adeptos pelo mundo. Usando exercícios respiratórios e posturais em colchonetes ou em aparelhos feitos de molas, tiras de couro, roldanas e barras, o aluno melhora a postura, diminui a barriga, tonifica os músculos, ganha flexibilidade. E em poucos meses. O resultado explica parte do sucesso. A outra parte se deve, sem dúvida, à boa propaganda. Depois que beldades como Sharon Stone se declararam encantadas com o exercício, a procura explodiu.
Quem arrebentou o joelho com os saltitos frenéticos da aeróbica nos anos 80 sabe bem da importância de proteger o corpo. "Passei um tempo enorme parada, cheia de dores por causa de anos seguidos de pula-pula. Fiz muita antiginástica para me recuperar. Hoje, felizmente, as pessoas estão mais atentas", diz a empresária Lígia Azevedo, uma das entusiastas arrependidas da velha aeróbica, hoje praticante de pilates.
As vantagens desses exercícios de baixo impacto são muitas, sem dúvida. Mas é preciso atenção. "O tripé básico da atividade física é força, flexibilidade e capacidade aeróbica. E a maioria desses exercícios é ótima para a flexibilidade e até ajuda a desenvolver a força. Mas quem quiser estar realmente em forma precisa caminhar, correr, pedalar", alerta o chefe do departamento de ginástica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Alex Pina. Por isso, para quem está mesmo precisando perder uns quilos, a simples posição de lótus, sozinha, não resolve. O jeito é suar a camisa ou fechar a boca. As atividades zen têm outro senão: o preço. Uma mensalidade de pilates, com aulas apenas uma vez por semana, custa em média 100 reais. O ideal é fazer duas vezes por semana. E aí o preço costuma duplicar.
Uma das maiores vantagens desses exercícios é mesmo a integração. Eles podem ser praticados por adultos, crianças e idosos. Em geral são mais procurados pelas pessoas com mais de 30 anos. Uma turma que já se cansou do ambiente jovem sarado que domina a maioria das grandes academias da cidade, não tem pressa para entrar em forma e está mais preocupada com saúde e bem-estar do que com curvas e músculos inflados. De olho nessa onda, o roteiro da beleza do carioca vem ganhando novos e curiosos endereços. "Quando eu comecei, não havia tantos espaços assim", comemora a professora de educação física Silvia Sobral.
No momento, esse segmento está fortíssimo, diz Pedro Aquino, presidente da Associação das Academias do Rio. Ponto para quem gosta de música tranqüila e malhação zen.
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