É o sal de cozinha, e não a comida industrializada, a principal fonte de sódio dos brasileiros. Ele responde por 71,5% do total do nutriente ingerido no país.
A conclusão é de estudo da Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) com base em dados do IBGE de 2008 e 2009, obtido com exclusividade pela Folha. Os resultados têm aval do Ministério da Saúde.
Cada brasileiro consome, em média, 4,46 gramas de sódio por dia-o equivalente a 11,38 gramas de sal. O limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde é menos da metade: 5 g de sal (equivalente a 2 g de sódio).
O nutriente é associado a maior risco de pressão alta e de doença cardiovascular.
Os produtos da indústria responderam por 23,8% do total da ingestão de sódio. "Essa acusação pesada em cima de nós, de que respondíamos por 80% do sódio consumido, se mostrou inverídica. Os dados do IBGE são insuspeitos", afirma Edmundo Klotz, presidente da Abia.
Segundo ele, as constatações do estudo não alteram o acordo com o Ministério da Saúde de reduzir 20.491 toneladas de sódio dos alimentos processados até 2020.
Pelo cronograma, o macarrão instantâneo deve estar hoje com 32,4% a menos de sódio, e a margarina vegetal deve chegar ao fim do próximo ano 57% menos salgada.
Eduardo Nilson, coordenador substituto de alimentos e nutrição do Ministério da Saúde, diz que Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já está recolhendo amostras e verificando rótulos para checar se o acordo está sendo cumprido.
Para o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), as metas estabelecidas são "tímidas", mantendo o consumo de sódio elevado e com pouca alteração do cenário atual do mercado.
Sophie Deram, nutricionista do ambulatório de obesidade infantil do HC da USP, levanta uma outra questão: alimentos que ficaram fora do acordo, como alguns refrigerantes e sucos diet e light.
"São supostamente saudáveis, mas estão cheios de sal. A indústria baixou os níveis, mas há ainda muito sódio escondido", afirma.
Nilson, do ministério, diz que, em um primeiro momento, houve a necessidade de priorizar alimentos industrializados mais consumidos, mas que outras categorias podem entrar em acordo futuro.
Segundo o estudo da Abia, a maior parte do sódio foi consumida nas residências, sendo 59,7% do sal de cozinha. Outros 11,8% vieram do sal adicionado à alimentação fora de casa.
"Foi uma surpresa a indústria responder só por um quarto do sódio, e o sal de cozinha ser o grande vilão", afirma o endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do HC.
Na sua opinião, fica evidente a necessidade de campanhas públicas para a redução do sal no preparo e no consumo de alimentos. O ministério diz que já existem campanhas do gênero voltadas para mães e escolares.
"A população tem tendência de colocar muito sal nos alimentos e ainda adicionar mais quando come fora", afirma Sophie Deram, francesa.
Alguns restaurantes de São Paulo já estão retirando o sal da mesa, e só o colocam à pedido do cliente. O advogado Carlos Nunes, 56, diz que se surpreendeu com a novidade em um restaurante do Itaim (zona oeste de São Paulo).
"Colocava sal antes mesmo de experimentar a comida. Agora penso duas vezes."
A região Norte registrou o maior volume de consumo de sódio do país, com 5,41 g por habitante por dia (13,8 g de sal). Só o sal de cozinha respondeu por 10,8 g. Já no Sudeste, os alimentos industrializados foram responsáveis por 29,6% do sódio ingerido.
Fonte: folha.uol.com.br
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