terça-feira, 9 de outubro de 2007

A febre do pilates

A febre do pilates
O método de exercícios que conquista o país também pode oferecer riscos
Fonte: Jornal do Brasil- Suplemento Vida- 04/09/2004
Maria Vianna




Há cerca de dois anos, pouca gente imaginava o que era pilates. Ao deparar com as camas altas articuladas por molas, desavisados poderiam supor que entravam em réplicas de salas de tortura. Hoje, de pequenos estúdios a grandes academias, o método criado pelo alemão Joseph Pilates está em toda parte, respondendo à demanda de uma legião de praticantes interessados nos benefícios alardeados pela imprensa e pelo boca a boca.





Infelizmente, além de profissionais bem formados, a explosão do pilates deu espaço, também, para pessoas que viram no método apenas um bom filão e, sem a devida capacitação, acabam expondo os alunos a sérios riscos para a saúde. ''Um trabalho mal orientado pode gerar lesões gravíssimas'', aponta Marion Kelson, coordenadora do Gestos, espaço que oferece aulas do pilates. ''Pilates não é malhação e exige um trabalho de conscientização corporal muito sério'', completa.





A prática une movimentos de solo e nos aparelhos, em que força e flexibilidade são exercitadas simultaneamente. O foco mais intenso do trabalho é o fortalecimento do tronco e do abdome, centro do corpo. Entre os principais efeitos do método estão o ganho de força muscular, o alongamento e a flexibilidade. A prática também traz excelentes resultados na recuperação de movimentos de pessoas com problemas de coluna ou alívio para lesões musculares, por exemplo.





A fisioterapeuta Mariane Mendonça melhorou das dores na coluna, e recomenda a prática para seus pacientes

Foi o pilates que melhorou as dores lombares do economista João Felipe Prado, de 56 anos, adquiridas na musculação. Por falta de orientação durante a prática dos exercícios, Prado comprimiu alguns discos da coluna. ''Fui a vários especialistas, entre eles três ortopedistas diferentes. Fiz shiatsu, acupuntura e RPG, mas nada funcionava.'' Só na segunda tentativa com o pilates, sob a orientação da fisioterapeuta Adriana Heineman, teve o alívio que procurava. ''Sinto-me outra pessoa. Hoje, corro 8km antes das sessões de pilates'', conta. Recentemente, Prado passou por uma cirurgia no ombro. Em vez da fisioterapia, optou pelo pilates e teve uma ótima recuperação.

O ator Sérgio Marone também é fã de carteirinha das aulas de pilates. Com 1,93m de altura, Marone procurou a técnica porque vivia com dores na coluna e nos joelhos. Descobriu que a prática regular diminuía sua ansiedade nos palcos, melhorava capacidade respiratória e o deixava mais equilibrado. ''É um exercício inteligente, que deixa a musculatura muito mais bonita do que outros exercícios'', acredita.

Como os movimentos mexem com fibras musculares muito internas, mesmo quando é preciso interromper as aulas a musculatura se mantém definida. Recentemente, Marone machucou o joelho durante uma apresentação de teatro. ''Rompi ligamentos e morri de medo de ter que operar. Acabei me tratando com fisioterapia e pilates, e hoje meu joelho voltou ao normal'', conta ele, que pratica uma vez por semana. ''Acho o pilates tão prazeroso que nem considero aula, é um momento que encontro para relaxar'', revela.

Bem feito, o pilates é o céu. Mas também pode ser o inferno, já que os danos possíveis são inúmeros. ''Para evitar que o aluno se machuque, é fundamental um minucioso alinhamento postural a cada movimento'', explica a professora de pilates Ane Benati, formada em Educação Física. A aposentada Neide Miranda Rila, 64, descobriu a dolorosa diferença entre um pilates bem orientado de um trabalho menos cuidadoso. Neide iniciou a prática por causa de um desvio na bacia e um início de artrose e, durante um ano, sentiu-se ótima fazendo aulas específicas para sua idade e seus problemas de saúde. Quando seu professor mudou de academia, a aposentada resolveu experimentar um estúdio próximo a sua casa.

''Logo nas primeiras aulas vi que eu sabia mais do que o professor. Ficava insegura vendo os instrutores estudando nos intervalos das aulas'', lembra ela, que chegou a ter a atenção chamada quando fez um rolamento ensinado pelo antigo professor. ''O dono da academia disse que eu não podia fazer aquilo porque se os outros alunos quisessem aprender, eles não saberiam ensinar.'' Mesmo assim, ela insistiu nas aulas no local e começou a sentir as antigas dores na bacia e nas articulações. ''Ficaram tão insuportáveis que comecei a tomar remédio. Não conseguia nem dormir direito.''

Segundo Neide, outros alunos sentiam dores e não recebiam nenhuma explicação dos professores. Por fim, a aposentada brigou com o dono do estúdio e voltou para o antigo professor. Um mês após o retorno, as dores já haviam melhorado. Mas para reverter o estrago, foram mais de seis meses de trabalho intenso.


Para evitar este tipo de mau uso, que pode pôr em xeque a credibilidade da técnica, grupos começam a se organizar para exigir capacitação e assegurar fiscalização dos pequenos espaços que pipocam a cada dia pelo país. A intenção é mapear os estúdios e avaliar os certificados de pilates existentes no Brasil, priorizando aqueles com amparo de instituições internacionais.

No Rio, em São Paulo e em Salvador, estão em vias de legalização as primeiras associações locais de professores de pilates. A falta de qualquer regulamentação da técnica até agora vem gerando uma verdadeira guerra política entre conselhos de classe. Alguns Conselhos Regionais de Educação Física, como o da Bahia, já começaram a fiscalizar estúdios, com o objetivo de multar locais que não tenham um professor de educação física responsável.

''Entendemos que, entre outras coisas, o método busca o condicionamento físico e, como tal, precisa ser orientado por um profissional da educação física'', diz Jorge Steinhilber, presidente do Conselho Federal de Educação Física (Confef). ''A técnica trabalha numa área de interseção entre a educação física e a fisioterapia, e foi popularizada no mundo, e também no Brasil por bailarinos'', rebate a vice-presidente do Conselho Federal de Fisioterapia, Ana Cristina Brasil.

Esta semana, profissionais de formações variadas, como fisioterapia e dança, que fizeram especialização na técnica e querem ver assegurado seu direito de trabalhar com ela, tiveram uma vitória importante: a Comissão de Educação da Câmara aprovou projeto que exclui do âmbito de fiscalização do Confef os profissionais de dança, artes marciais, ioga, capoeira e pilates. ''Existem vários tipos de pilates, com objetivos como consciência corporal, condicionamento físico e reabilitação. Mas não há como separar totalmente onde acaba uma coisa e começa outra, o que muda é a ênfase'', aponta o professor de educação física e fisioterapeuta Pedro de Melo Franco.


Ao buscar alívio para seus problemas de postura, a fisioterapeuta Mariane Mendonça, 29, encontrou também um corpo mais vigoroso, e venceu o sedentarismo. Massagista e especialista em RPG, Mariane estava cansada de terminar o expediente com dores nos ombros, nas costas e nas articulações. ''Não freqüentava a academia há mais de cinco anos, e vivia cansada. Meu condicionamento físico era zero e, como meu trabalho exige força, eu acabava o dia com uma sensação de fraqueza'', conta Mariane, que resolveu experimentar o pilates e começou a ver seu corpo mudar gradativamente para melhor.


A transformação mais significativa aconteceu na sua coluna, que vivia dolorida por causa das exigências do trabalho. Tinha uma leve cifose, que melhorou com os exercícios. ''A consciência corporal que se ganha é muito boa, e sinto que movimento o corpo de forma diferente.''


Segundo a fisioterapeuta, dependendo do objetivo, dá para sentir diferença no corpo após a primeira sessão. Outros benefícios observados por ela foram o aumento da flexibilidade e uma resistência física maior. ''Hoje, quando dou alta aos meus pacientes, recomendo o pilates como forma de manter o corpo equilibrado'', diz. Quando bem orientado, portanto, o pilates merece toda a fama que tem. Vão-se as dores, ficam os músculos, trabalhados e sadios. O corpo agradece.

- Pratique com segurança
- Descubra se seu professor é habilitado para dar aulas de pilates
- Observe se as turmas são pequenas - a atenção durante a prática deve ser quase individual
- Relate qualquer problema de saúde para seu professor
- Se você sofre da coluna, procure orientação médica antes de iniciar a prática