domingo, 11 de novembro de 2007

Pilates integra aulas com bolas, trampolins e até na piscina; para médicos, resultados são diferentes dos do método tradicional

PRISCILA PASTRE-ROSSIDA REPORTAGEM LOCAL (SBC Notícias).


Para ocupar as academias e dividir a grade de horários com abdominais, step e outras aulas, o pilates mudou: saíram os aparelhos, desenvolvidos no início do século 20 pelo alemão Joseph Hubertus Pilates, e entraram colchonetes, bolas, elásticos, minitrampolins e até piscina. As novas versões conservam alguns conceitos do método tradicional e ganham novos nomes.
"Esses casamentos costumam trabalhar com conceitos da prática original, mas não são pilates", diz Maria Cristina Abrami, do CGPA (Centro de Ginástica Postural Angélica).
Quem pratica ou alguma vez já assistiu a uma aula do método tradicional e de repente se depara com o "jumpilates", por exemplo, deve concordar com Abrami. A sala tem minicamas elásticas, a música é agitada e os alunos passam boa parte do tempo pulando no equipamento.
"A cada três minutos de atividade aeróbica, fazemos um minuto de exercícios baseados no pilates", explica Fernando Baeta, professor da modalidade na academia Monday, em São Paulo.
Os objetivos do "jumpilates" são treino cardiovascular, melhora do condicionamento físico, equilíbrio e fortalecimento do abdômen e dos membros inferiores.
A recomendação para que os resultados sejam vistos ainda nos primeiros meses, principalmente na barriga, nas coxas, nos glúteos e nas panturrilhas, é uma freqüência de três vezes por semana. Para quem quiser emagrecer, a combinação rende, em 45 minutos, um gasto de aproximadamente 500 calorias, afirma Baeta.
O minuto concedido ao pilates fica por conta de exercícios de isometria, que são os movimentos de sustentação de braços e pernas no ar, para que a musculatura faça um trabalho de fortalecimento utilizando o próprio peso do corpo. Na academia Competition, também em São Paulo, a novidade é a aula de ABS.comp. (sigla da academia para designar exercícios abdominais), que une técnicas da ioga e do pilates. Na prática, o que se vê é uma aula de localizada, com foco no trabalho abdominal, uma das principais características do pilates original.
Os exercícios isométricos são responsáveis pela maior parte dos 30 minutos de malhação. Para Glaucia Adam, coordenadora do curso de pilates da academia, esse tipo de treino não substitui o pilates tradicional. "São exercícios que complementam o treino de quem quer tonificar os músculos, mas os objetivos das duas aulas são diferentes", afirma.
Enquanto práticas como "jumpilates" e ABS são mais indicadas para quem quiser resultados estéticos, o pilates tradicional vai além.
Nessa conta, segundo a professora de pilates Maria Lúcia Silva dos Santos, da academia Manoel dos Santos, menos é mais. Ela explica que quem faz uma aula exclusiva desse método não só trabalha contraindo e alongando os músculos para que eles fiquem tonificados e torneados mas também ganha consciência corporal.
Para Maria Cristina Abrami, da CGPA, é aí que ele ganha de qualquer outra técnica desenvolvida apenas com os seus conceitos. "O nível de concentração nos exercícios de pilates é altíssimo", lembra. Foi o que descobriu Eiryo George Okura, 23, estudante do curso de ciência da atividade física da USP (Universidade de São Paulo).
Okura pratica artes marciais há cinco anos. Nesta semana, ele se arriscou pela primeira vez em uma aula de pilates. "Não sabia que tinha de prestar tanta atenção em tantas coisas. Posição das pernas, dos ombros, dos cotovelos, dos pés, da cabeça... Não conheço nenhuma outra aula que trabalhe tanto com consciência corporal", diz. Entre os médicos, o pilates tradicional também é mais defendido do que as modalidades que o unem a outros tipos de exercício. Antônio Maceo de Castro, fisiologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que a prática chega a ser indicada para prevenir ou amenizar problemas de postura ou de coluna.
A união dessa técnica a outras, no entanto, costuma apresentar restrições. "O impacto sofrido pelo corpo em uma aula em cima de camas elásticas ou muito focada no trabalho abdominal não é aconselhável para quem tem hérnia de disco, por exemplo." Quando os movimentos do pilates são levados para a piscina, esse impacto diminui.
Para Fernando Kozel, professor de "water pilates" na academia Aquasport, também na capital, a noção de equilíbrio corporal ganha destaque no trabalho feito na água, já que precisa ser realizado de forma mais lenta. "Os exercícios são feitos com o abdômen contraído, da mesma forma que no pilates tradicional", diz. Ainda assim, quem defende o método original diz que o "water pilates" está mais para hidroginástica que para pilates.
"Basta ver a forma como cada um é realizado: no pilates, os movimentos são feitos na horizontal. Não há como fazer isso na piscina", diz Abrami.