Logo ao dar os primeiros passos pela manhã as dores são intensas. A sensação de incômodo também se repete ao pisar no chão depois de um longo período de descanso. Esse desconforto, conhecido como fascite plantar, é um processo de infamação da planta do pé, muito comum em atletas e pessoas sedentárias acima do peso que, do dia para a noite, iniciam a prática de atividade física sem o acompanhamento adequado.
A fascite é, predominantemente, decorrente de sobrecarga na planta do pé e frequente em pessoas com mais de 40 anos. A incidência dessa doença é sete vezes maior em mulheres. Os grandes vilões são a maior sensibilidade da musculatura das mulheres, os distúrbios hormonais femininos – que as deixam mais propensas ao encurtamento dos músculos posteriores – e o uso de salto alto, fator importante para explicar a concentração de casos entre elas.
“A maioria está despreparada do ponto de vista físico. Frequentemente a musculatura posterior está encurtada, o que determina sobrecarga em pontos chave do membro inferior, causando dor”, esclarece o Dr. Caio Augusto de Souza Nery, ortopedista do Einstein.
Alguns pacientes podem, ainda, apresentar uma formação óssea pontiaguda no osso do calcanhar, em formato de gancho. Essa alteração, chamada esporão de calcâneo, é um indício da calcificação de um processo inflamatório e não o motivo das dores agudas, como alguns pacientes acreditam. “Eles tendem a acreditar erroneamente que aquela formação cutuca a planta do pé por conta do formato”, explica o Dr. Marcelo Pires Prado, também ortopedista do hospital.
Isso significa que o esporão em si não causa dor porque é mais o resultado de um processo do que o agente. "O esporão é uma forma bem imprecisa de caracterizar um problema maior, que é a fascite. A dor no calcanhar gera um processo crônico, que pode se calcificar, gerando a imagem que vemos na radiografia”, ressalta o Dr. Caio. Portanto, a inflação na planta do pé não resulta necessariamente no aparecimento do esporão e nem sempre essa formação óssea está relacionada à fascite, podendo ter outras causas.
Os especialistas destacam, ainda, que a fascite pode ser um sintoma de outras doenças mais graves e crônicas, como o diabetes ou a artrite. Por isso, a definição da causa é extremamente importante. É essencial que o médico busque a origem dessa sobrecarga para que possa determinar o tratamento mais adequado.
Tratamento
Verificada a ausência de outra condição, o médico poderá pedir radiografias, que permitem identificar a presença ou não do esporão, e uma ressonância magnética ou ultrassonografia para verificar a existência de tecido inflamado no calcanhar.
O tratamento quase sempre é conservador e baseado na tríade: proteção, desinflamação e readequação. A primeira ação é proteger a região do calcanhar de choques por meio do uso de calcanheiras macias ou palmilhas ortopédicas. Na sequência, medicamentos anti-inflamatórios deverão agir sobre as estruturas comprometidas, aliviando a dor.
O terceiro passo é a fisioterapia, que tem por objetivo readequar as estruturas por meio do alongamento da região posterior: costas, coxas, pernas e pés. “Em geral, os pacientes melhoram com remédios e fisioterapia, mas existem casos em que precisamos entrar com a terapia por onda de choque”, ressalva o Dr. Marcelo.
Essa modalidade moderna e bastante eficiente utiliza um equipamento que produz ondas físicas de alta intensidade que se propagam dentro de um meio gelatinoso. Sua aplicação direta sobre a estrutura comprometida leva à desinflamação. “Noventa por cento das pessoas ficam bem apenas com tratamentos não-invasivos, como o uso de calcanheira, remédios e alongamento. Dos outros 10%, a maioria (7%) responde bem à terapia por onda de choque. O restante (3%) precisa de cirurgia”, explica o Dr. Caio Nery.
A cirurgia na região pode ser feita por via endoscópica e visa liberar as estruturas tensas e encurtadas. O procedimento pode levar de 30 minutos a 1 hora e a recuperação depende da idade e condição de cada paciente, mas pode variar de um a três meses.
Previna-se
É possível evitar a fascite de forma simples: basta manter uma rotina de alongamentos, principalmente da musculatura posterior do corpo. Além disso, os médicos recomendam respeitar uma planilha progressiva de treinos adequada à condição física de cada um e utilizar calçados específicos para cada modalidade esportiva. “É importante prestar atenção ao tênis. Ele deve ser adequado ao esporte praticado e também ao pé da pessoa. É importante consultar um profissional especializado para saber se o pé é neutro, supinador ou pronador. Na dúvida, a opção deve ser por um tênis neutro”, indica o Dr. Caio.
E também vale lembrar que os tênis têm data de validade. O fabricante deve ser consultado e informar quantos quilômetros é possível percorrer com determinado modelo. Em geral, esse tipo de calçado dura, pelo menos, 500 km. Depois disso, a absorção de impacto fica comprometida.
Fonte: http://www.einstein.br/einstein-saude